21.4.10

sobre as lamentações de ser mulher.

Ser mulher não é fácil.

Tem que estar sempre magra, linda, perfumada, maquiada, bem vestida, ser bem resolvida, cabelo limpo e em ordem, unhas pintadas, pele macia e depilação em dia.

A gente vai ao dentista e ouve tudo como tem que escovar os dentes e passar fio dental após cada refeição, não comer doces e balas, fazer limpeza a cada 6 meses, tudo isso pra depois não ter que fazer restaurações.
Beleza, a gente sai de lá pensando que vai fazer tudo certinho, afinal, ninguém merece ter os dentes doendo quando toma água gelada (/colgate) e come chocolate né? Mas e o trabalho que dá escovar os dentes sempre que come o lanche da manhã ou da tarde? E passar o fio dental em todos os dentes? E evitar a coca cola e o café pros dentes não amarelarem?

Depois tem a nutróloga (a Dani me mata) que dá aquela dieta que sabemos de cor e salteado, faz recomendações de caminhar, fazer exercícios, dormir bem, comer saladas e verduras, não comer na frente do computador ou televisão, tirar tempo para comer com calma, não beber durante as refeições, não beber muito álcool, comer frutas, e enfim, comer pouca porcaria e muita coisa verde.
Saio de lá pensando, claro, isso é saudável e vai evitar problemas mais tarde, além do mais vou ficar com o corpo legal e tal. E o tempo e esforço pra fazer tudo isso? A vida moderna permite todas essas frescuras? Caminhar de manhã cedo no feriado? E sábado e domingo também, já que é a solução pra quem trabalha e estuda o dia todo.

E eu não consigo almoçar comida decente todos os dias. Meu “vale refeição” (deveria ser vale 1/3 de refeição) não dá conta do padrão dos restaurantes do centro, e acaba em duas semanas, com sorte. Meu trabalho fica no topo de um morro, e além de descê-lo, tenho que andar mais uns 500 metros pra chegar num restaurante, então quando tenho o empenho de fazer isso no sol escaldante, quero comer uma coisa calórica e que vai me deixar feliz, né? Só que essas coisas custam o dobro do que posso pagar, e ainda acumulam as gordurinhas. Daí o resto do mês eu tenho que comer a péssima comida (não sou mal agradecida, viu? Não é muito boa mesmo) requentada da minha mãe. Isso não anima muito.

Eu adoro maquiagem. Mas quem me vê todos os dias, sabe que eu não uso. Quando vou numa farmácia ver o que “tem de novo”, to sempre sem, e a mulher deve me achar louca porque compro tanto, mas nunca me vê maquiada.
Daí a gente vê as meninas de pele perfeita, que nem precisam de base. Passa o rímel e blush e tá pronta pra trabalhar. Eu queria sim ir bonitinha trabalhar todos os dias. Com o corretivo no lugar, rímel, um traço de lápis de olho, blush e batons diferentes todos os dias. Só pra dar um “up”. Mas não tenho tempo. Acordo atrasada todos os dias e a correria só me permite lavar o rosto com um sabonete adequado, passar o tônico e o hidratante sem FPS. O protetor solar perfeito eu tenho, mas não dá tempo de passar, e depois de retocar também.

E tem que ir trabalhar com a roupa limpa, passada e bonitinha, o sapato confortável pra subir o morro e às vezes andar até o restaurante pra almoçar. Não dá. Vou de calça jeans todos os dias e uma blusa qualquer que me permite brigar o menos possível com o frio ou o calor absurdo lá fora. Nos pés sempre o mesmo tênis all star ou uma sapatilha pra variar.

No cabelo dei jeito porque agora ele tá curto. Ainda precisa de uma chapinha todas manhãs pq quando acordo ele fica volumoso no “topo”. Coisa de 5 minutos que às vezes custa o meu ônibus. Mas já foi pior. E eu tenho que lavar ele todos os dias pq é muito oleoso.

As unhas eu não faço sempre, tenho preguiça. Mas às vezes bate a vergonha e faço, ou “mando fazer”.
A pele não tá macia, mas o namorado acha que tá bom. Tenho preguiça dos hidratantes de corpo, apesar de ter vários.

A depilação eu gosto de pensar que não faria com tanta freqüência se não tivesse namorado. É um negócio que pouparia dinheiro e dor. Mas eu admito que gosto muito do resultado depois, então, eu tento reclamar o menos possível porque vale a pena. Mas olha, dói.

Daí a gente vai ao dermatologista e ele já dá outras milhares de recomendações e produtos pros problemas que a gente leva lá, mas tem a maior preguiça de resolver depois que aparece uma possível solução.

A ginecologista tem a vez dela. O ortopedista também, pra dor nas costas. A neurologista pra dificuldade em dormir.

Como mulher é problemática né? Vê problemas em tudo. Eu acho bom que eu tento resolver algumas coisas, mas daí vou ver, tenho tantos “problemas” que ainda me pergunto como estou de pé?

A minha bolsa do dia-a-dia é pesada. Tem de tudo. Necessaire, sombrinha, fones de ouvido, celular, remédios, lapiseira, caneta, borracha, carteira, porta aparelho móvel, calculadora, óculos de grau, óculos de sol, etc... levo também caderno na mão, e às vezes alguma sacola com coisas pro trabalho (afinal saio de casa às 7:20 e chego às 22:30 né?) e então olho pro meu namorado e o que ele leva? Nada!!! Celular, crachá, chaves no bolso, às vezes algum papel de anotações da faculdade e só!

Como é possível isso?!!?

Ainda tenho que me preocupar em ser uma boa profissional, boa namorada, assistir as aulas chatas da faculdade, fazer provas e trabalhos, não esquecer de tomar anticoncepcional todos os dias, aguentar o filho dos outros, pagar contas e mais um monte de coisas.

Nesse exato momento acabei de fazer declaração de imposto de renda pra minha mãe e pra amiga dela, aguentei as mal criações do meu sobrinho e da minha irmã e tô de saco cheio.